27.01.2015
Sala de aula, alguém se levanta lavado em lágrimas, sai e bate a porta atrás de si. O drama está instalado, todos olham uns para os outros com um genuíno e surpreendente ar de compreensão. Alguém se levanta a seguir e diz: – Oh stôra, posso ir ver se está tudo bem? é que sabe, são aquelas coisas do Amor…
Ora bem, quem dá aulas assiste a isto numa base quase diária e eu o que venho fazer aqui é um elogio ao amor, mas não é a um amor qualquer, é aquela forma de amor que só os nossos alunos adolescentes sabem sentir.
Louvo a forma como os meus adolescentes vivem o amor. Ao longo da nossa vida, perdemos de alguma forma a maneira como vivemos os nossos amores, a vida tornou-nos mais cínicos, mais receosos, mais racionais. Pelo que é sempre uma lufada de ar fresco ver a maneira como aquelas “Pessoas” se entregam total e indubitavelmente ao amor, mesmo que seja para sofrerem na mesma proporção quando as coisas acabam, acho que é um ato de coragem hercúlea atirarem-se às relações, sem nunca olhar para trás.
Por vezes, tenho o terrível hábito de dizer aos meus alunos adolescentes algo que vos peço para não dizerem aos vossos, porque me lembro quando eu era adolescente, odiar que me dissessem, que é aquela coisa terrível do: “deixa lá, isso passa” ou “ainda és novo, tens a vida toda pela frente” ou a pior “há muitos peixes no mar”. Por favor, não façam isso, porque eles, como nós não conseguem ouvir, porque eles, como nós, acreditam que aquela pessoa é que é a pessoa que vão amar para toda a eternidade e não há nada nem ninguém que os convença do contrário, tal como a nós ninguém nos convenceu.
Termino com um desafio: vamos viver por um dia as nossas relações como se fossemos adolescentes: vamos enviar mensagens de minuto a minuto só porque sim, essas mensagens têm de incluir temas como: “aquela música lembrou-me tanto de ti” e toda aquela sequência do: “amo-te” e em resposta: “amo-te mais” e em resposta: “amo-te sempre” e em resposta: “amo-te para sempre” e assim consecutivamente; vamos aproveitar todos os intervalos que tivermos para ligarmos para a pessoa só a dizer o quanto sentimos a falta dela; vamos sair uma hora mais cedo só porque não aguentávamos mesmo, “tipo”, era impossível estarmos sem ver aquela pessoa; quando virmos a pessoa na rua vamos dar beijos à pessoa daqueles que já não podemos porque supostamente já não é para a nossa idade; basicamente a ideia é que a pessoa sinta que nós vamos morrer sem ela, mas não é num futuro distante, é que se não a tivermos vamos morrer num curto espaço de cinco minutos nem tanto…
Tentem fazer isto só uma vez, porque se há coisa em que eu os admiro é que de facto acredito que quem nunca sentiu que morria por amor, nunca viveu de facto e eles conseguem estar vivos todos os dias!
Até 3ª
Pessoa Ana