“eu sou o teu pai e continuarei a ser o teu pai! Mesmo quando é difícil para ti e difícil para mim, não me podes demitir, não nos podemos divorciar, não me podes jogar fora, ou desligar!”
in Haim Omer – “The New Authoroty – Family, School and Comunity”, Cambrige University Press, 2011.
Depois da assunção de fracasso dos modelos autoritários tradicionais, que se baseavam na exigência das hierarquias, na implementação do respeito pelas regras e na necessidade de uma distância afectiva, os últimos estudos sobre os estilos parentais, também extensíveis ao papel dos educadores e professores, tinham vindo a sugerir a urgência de promover nas famílias estilos mais democráticos, baseados na negociação, na monitorização das experiências dos filhos e numa psicopedagogia dos afetos, que permitiria a aproximação afectiva através da partilha e codificação de emoções.
No 44º congresso de terapia familiar pela Accademia di Psicoterapia della Famiglia em Roma, afeto ao tema da violência e do bullying, Haim Omer, Psicólogo e Professor de Psicologia na Universidade de Tel Aviv, acaba de propor um modelo diferente, inovador, empiricamente sustentável, que vem denunciar uma constatação tão provocatória quanto necessária e atual: a autoridade democrática já não chega! Temos que avançar.
Baseado no trabalho clínico desenvolvido com as famílias mas também na tentativa de dar resposta ao grande desafio comunitário que várias sociedades atravessam, que se trata da colaboração entre a escola e a família na educação e suporte das crianças e dos adolescentes, Omer pôde observar que a prevenção e intervenção nos comportamentos de risco, onde se pode incluir a violência, são mais eficazes se se basearem nos seguintes pontos:
- Presença Parental
Capacidade dos pais em transmitir de forma inequívoca aos filhos uma ideia sólida de presença: “Nós estamos aqui.” Esta forma de estar não é um controlo nem uma avaliação, mas sim uma afirmação de suporte e apoio. “Estar aqui” é estar na relação com os filhos e lembrá-los disso todos os dias. Os filhos podem até bater com a porta do quarto, mentir, fugir de casa, comunicando uma necessidade de limites, mas os pais que estão na relação detetam essa comunicação (“Percebo que estás zangado”), respeitam os limites (“Vamos deixar-te no teu espaço”) e ainda assim, estão lá (“Mas antes vamos clarificar as tuas necessidades”).
- Resistência Pacífica
“Ficamos aqui até que mude qualquer coisa. Sem violência, sem agressão ou invasão, se for preciso em silêncio, uma hora, duas horas, o tempo que for preciso, mas a tua angustia, ou a tua raiva, não está sozinha.”
- Sentido de autoridade colectiva
“A autoridade não é uma pirâmide, é uma rede”, diz Haim Omer. A transformação positiva do comportamento não advém da punição ou do castigo, mas de um esforço conjunto para a construção dos recursos. Em primeiro lugar, a autoridade não se tem, dá-se. Os filhos reconhecem a autoridade nos pais quando percebem que apesar da dor e dos atritos eles estão lá, ficam. Em segundo lugar, os pais mais facilmente sabem ficar quando sentem que não estão sozinho, são suportados por outros pais ou até mesmo pelo concelho dos amigos dos filhos. Os pais aflitos podem falar com outros pais, com os professores, saber como faz cada um para lidar com os problemas.
Um dos principais desafios que nos traz esta nova forma de autoridade é estabelecer a diferença entre uma vigilância cuidada e a inspeção. Estar na relação com os filhos de uma forma perseverante não implica de facto uma intrusão no mundo interior e exterior de um filho ou de uma filha. Inspecionar seria uma forma de controlo, obtendo informações para poder castigar. Vigiar com afecto, ou supervisionar, é obter informações sobre o mundo interno e externo dos filhos, com o objectivo de conhecer e promover desenvolvimento. Significa estabelecer ligações com a rede para criar proximidade e suporte, não distância nem desconfiança.
Na Casa Estrela do Mar, através do trabalho com as famílias, nas sessões de terapia e de expressão pelas artes, temos vindo a promover uma proximidade e distância justas entre as pessoas, permitindo a construção de uma autoridade consistente e que responde às necessidades dos pais e dos filhos. Também o temos feito no trabalho com as escolas, promovendo as competências dos professores na escuta, suporte e orientação das necessidades dos alunos e dos próprios professores. Continuaremos a fazê-lo. Recebemos os pedidos de ajuda e tal como os pais perseverantes, não arredamos pé até que haja mudança!
Francisco Gonçalves Ferreira
Referência bibliográfica:
Homer, H., 2011. The New Authoroty – Family, School and Comunity, Cambrige University Press.
Realizaremos em breve uma formação sobre o tema “Como construir uma autoridade que previne comportamentos de risco?”.
Para mais informações basta “vigiar com afecto” o nosso site www.casaestreladomar.pt ou a nossa atividade no facebook.
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