02.06.2015
Hoje lembrei-me de uma situação que remonta a quando comecei a dar aulas. Uma certa vez em que, após ter feito algo de muito estúpido, tive de colocar um aluno meu fora da sala de aula e em que me lembro da sensação de culpa e estupefacção com que fiquei…
Era um aluno com alguns problemas mas o principal deles era que naquele dia estava virado para me contrariar. Eu sei que o que vou contar parece quase impossível de acontecer mas quem é professor sabe que é perfeitamente normal, faz parte do nosso dia a dia.
Então, aquela pessoa entra atrasada, não pergunta nada a ninguém, porque é assim, às vezes eles entram em outra dimensão e não sabem bem onde estão, pensam que a sala de aula é uma extensão do seu quarto. Se fosse hoje em dia, obrigava-o a voltar para trás, bater à porta, esperar que eu respondesse, pedisse para entrar e só depois entrava (os meus alunos sabem que hoje em dia eu faço isto constantemente). Mas na altura achei que devia tentar a comunicação.
Ele senta-se, deita-se na mesa e fecha os olhos, eu chamei-o uma vez e oiço aquela frase mítica que todos nós ouvimos uma a duas vezes por semana no mínimo: “- hoje não stôra, hoje não!”
Segue-se o seguinte diálogo:
-Peço desculpa pessoa aluno, mas não pode entrar assim, nem estar a dormir em sala de aula.
-Porquê?
– Porquê o quê?
-Porque é que não posso dormir em sala de aula?
– Como assim?
– O que é que me diz que eu não posso estar a dormir em sala de aula?
– O que é que lhe diz?
-Sim, o regulamento diz que não posso estar a perturbar, estou a dormir, desde que não ressone não estou a perturbar…
Ora bem, não vale a pena continuar, já estão a ver onde é que isto vai parar não é? Ele acaba por sair todo chateado, eu com uma carga de nervos brutal, a turma já toda descontrolada, enfim…se fosse hoje teria sido de forma tão diferente, teria obrigado a que ele explicasse até à exaustão o seu ponto de vista.
Três reflexões a propósito desta conversa:
Desde quando é que se permitiu, em termos de sistema educativo, que os alunos pudessem fazer estas perguntas? Ou seja, porque é que eles não têm noção de uma coisa tão básica como esta?
Porque é que os professores ainda se sentem mal e culpados, depois de ter feito algo completamente correto e compreensível?
Porque raio os alunos não utilizam a suas capacidades criativas e de associação para coisas positivas?
Perguntas…perguntas…
Até 3ª!
Pessoa Ana
*os factos apresentados não são fictícios mas qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.