
6ª Feira dia 12.12.2014
3ª Crónica – Let´s talk about sex!
O que vos vou contar hoje é um problema que penso que é transversal a todos os que lidam com o ensino, relaciona-se com limites, com o nosso papel, com as dúvidas que envolvem as nossas profissões. Haverá muito mais crónicas sobre isto, porque acho que é um assunto que não tem fim…
Costumo dizer muitas vezes que há um papel muito definido para os professores, não somos pais, não somos amigos, somos qualquer coisa que implica também educar e formar, mas temos de ter o nosso papel e os limites do mesmo muito presentes para não ficarmos maluquinhos e aumentar ainda mais a taxa de doenças mentais na profissão.
Estávamos no início de uma aula e já sabem aquela comoção inicial que às vezes se forma num grupo, em que se começa a ouvir um barulho e uma agitação inacreditáveis e se repara quando se olha para eles que se os vamos interromper, eles vão flipar em constantes insinuações de incompreensão da nossa parte face aos seus dramas.
Bem, esta agitação era à volta de um computador. Eu perguntei levemente o que se passava, não fossem as criaturas eriçar-se e irromper no drama grego habitual que acontece quando os chamamos à atenção em momentos que eles consideram inoportunos, e as alunas que estavam à volta do computador vieram ter comigo. Uma delas motra-me o computador com um gráfico e pergunta-me: “stora, isto está certo não é? Se fizermos amor uma semana antes e depois do período, não precisamos de protecção porque não engravidamos não é? Está aqui que estamos à vontade e que não precisamos de nada…”
Ora bem, como é que uma pessoa reage a isto? É que não há formação para isto, ninguém nos ensina sobre o que fazer nestas situações…Por um lado, não podia deixar de falar abertamente com aquelas pessoas sobre o que elas estavam a insinuar, é que para além da gravidez, os riscos de doenças são tantos que me deu logo um arrepio na espinha a pensar se a pergunta era para saber o que podiam fazer, ou o medo do que poderiam ter feito. Mas por outro só imaginava a horda de pais que me iam aparecer à porta da escola a perguntar que direito tinha eu de falar com as suas meninas puras e virginais sobre questões de sexo (diabo seja cego, surdo e mudo – porque isto ainda é um tabu)!
Eu optei por falar abertamente sobre a questão, sobre a importância da proteção em qualquer momento, sobre o ciclo da mulher, sobre aquele gráfico ridículo que estava na internet, sobre a necessidade de se informarem, etc, etc, etc. Falei com elas do fundo do meu coração, admitindo inseguranças sobre o que lhes estava a dizer e incentivando-as a falarem com os pais, ou com os médicos de família sobre o assunto. Tenho a certeza absoluta que nenhuma delas o fez.
Então, onde fica o nosso papel? Como equilibramos o que a nossa consciência nos diz que é correto fazer, com o que de facto nos diz a nossa função, a sociedade e muitas vezes o julgamento dos que nos rodeiam?
Pois, não sei, não faço ideia…Um dia se eu souber digo-vos!
Até 6ª!
Pessoa Ana
*os factos apresentados não são fictícios, mas qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.